Artigo do Dr. Antonio Augusto T. Bertelli
Nos últimos anos, algumas formas de retirada da glândula tireoide foram desenvolvidas para se evitar uma cicatriz visível no pescoço. Esta onda teve início nos países do oriente, como a China e a Coreia do Sul, onde existe um aspecto cultural importante relacionado a cicatrizes visíveis na área da cabeça e do pescoço. Uma das formas que se tornou popular nesses países foi a tireoidectomia transaxilar, realizada pelas axilas e com auxílio do robô, na maioria das vezes. Esta cirurgia não “pegou” no ocidente, pois trata-se de um longo caminho entre a axila e a tireoide, envolve o uso de drenos, com um período de internação mais longo e frequentemente requer que o acesso seja feito dos dois lados para retirar toda a glândula. Outras tentativas de minimizar a presença da cicatriz foram desenvolvidas como acessos por incisões retroauriculares (atrás da orelha), acessos por incisões peri-aureolares (na mama), mas com os mesmos inconvenientes da cirurgia transaxilar.
Mais recentemente a cirurgia transvestibular, foi desenvolvida na Tailândia, onde já existem mais de 1200 pacientes operados desta maneira. Na realidade, um cirurgião americano já havia descrito este acesso em estudos anatômicos, e ele vem sendo rapidamente adotado em diferentes partes do mundo. Nos Estados Unidos ela já é realizada rotineiramente em grandes serviços como a Johns Hopkins, uma das principais escolas de cirurgia do mundo. No Brasil, existem pouco mais de 70 pacientes operados por este acesso, em grandes centros de São Paulo, Rio de Janeiro e Santa Catarina.
A tireoidectomia por acesso transvestibular, pode ser realizada com equipamentos de videocirurgia idênticos aos utilizados na cirurgia da vesícula, ou com o robô. O vestíbulo é o espaço entre o lábio e os dentes inferiores, onde são feitas 3 pequenas incisões para a colocação de portais que permitem a passagem da câmera e das pinças para que o cirurgião possa identificar, manipular e retirar a glândula. Os dois lados da tireoide podem ser abordados pelo mesmo acesso, o que explica a sua rápida adoção por cirurgiões de diversas partes do mundo. Os benefícios da videocirurgia, já comprovados em cirurgias abdominais, como a magnificação da imagem pela câmera e a delicadeza do instrumental de laparoscopia, tornam a cirurgia muito segura, com resultados semelhantes aos da cirurgia convencional aberta, em termos de complicações e sequelas. Na realidade, a cirurgia é a mesma, com os mesmos passos, o que muda é o acesso e a forma com que o cirurgião manipula e enxerga as estruturas. O pós-operatório também é muito semelhante ao da cirurgia aberta em termos de tempo de internação, retorno ao trabalho e queixas, mas as cicatrizes são mínimas e ficam escondidas dentro da boca.
Obviamente que não são todos os pacientes que são candidatos a este tipo de abordagem. Cada caso precisa ser avaliado individualmente para que a indicação seja realizada corretamente. Pacientes com glândulas de grande volume ou anatomia desfavorável continuarão a ser operados pelo métodos tradicionais, que são muito seguros, diga-se de passagem, e geralmente deixam cicatrizes quase imperceptíveis. Mas pacientes jovens e bem selecionados agora têm uma alternativa para realizar a cirurgia de tireoide sem cicatriz.
No último dia 9 de novembro de 2018, a primeira tireoidectomia transvestibular endoscópica da Santa Casa de São Paulo foi realizada pelo médico cirurgião de cabeça e pescoço Dr. Antonio Bertelli. O Dr. Bertelli realizou seu treinamento na Johns Hopkins, nos Estados Unidos e foi um dos pioneiros desta técnica no Brasil, já tendo realizado outros casos em outros hospitais de São Paulo. Na Santa Casa de São Paulo, a Disciplina de Cirurgia de Cabeça e Pescoço é chefiada pelo Dr. Antonio José Gonçalves, atual vice-presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia de Cabeça e Pescoço e que estava presente na cirurgia citada.
Em 28 de novembro de 2018 acontece o primeiro curso de tireoidectomia transvestibular da América Latina, em São Paulo, coordenado pelo Dr. Antonio Bertelli, Dr. Leonardo Rangel (RJ) e Dr. Renan Lira (SP), como um evento da VI Jornada Paulista de Cirurgia de Cabeça e Pescoço, JOPA-CCP.
Dr. Bertelli é especialista em cirurgia robótica e minimamente invasiva de cabeça e pescoço com foco em doenças da glândula tireoide, paratireoide, salivar, ínguas, cistos, nódulos, doenças do trato aero-digestório, tumores de lábio, língua, boca, garganta e esôfago/traquéia cervicais.
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